Vida intelectual

Nunca, como hoje, a vida intelectual impôs, àqueles que a praticam, a necessidade de uma ascese, de uma austeridade material e moral. Porque é pelas nossas esperanças terrenas, por mais justas que sejam em si mesmas, que o mundo de simulacros adquire, sobre nós, credibilidade e poder. Para escapar à sua sedução, às vezes é melhor renunciar mesmo a coisas que seriam de nosso legítimo direito, mas cujo desejo, em tais condições, arriscaria colocar-nos à mercê de nosso pior inimigo. Não que o homem de espírito nada possa ter sobre a Terra, não que ele não possa agir, e agir com poder e eficiência, muito maior mesmo, em seu aparente isolamento e fragilidade, que a dos escravos do poder mundano. Ao contrário, podemos ter e podemos agir. Só o que não podemos é nada esperar do mundo. A verdade só serve a quem é seu escravo, e ela se esquiva àquele que é escravo do mundo. A vida intelectual pode nos dar, além dos benefícios interiores, também, ocasionalmente, algum benefício exterior: profissional e social. Mas isto, se pode ser recebido, não deve ser pedido nem muito menos exigido. O homem deve dedicar-se à vida intelectual porque fazê-lo é ser homem, porque o dever de fazê-lo está inscrito no mais íntimo da sua natureza, e não porque tal ou qual carreira lhe garanta, na sociedade, tais ou quais benefícios. Estes devem ser encarados, apenas, como acréscimo ocasional. É necessário ser grato por tudo, mas é necessário desejar e pedir, antes de tudo, o essencial.

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