Esfera espiritual

Toda a experiência mística se passa numa esfera de realidade tão diferente da nossa vida social e terrestre, que a maior lástima da nossa existência talvez seja o fato de termos um só e o mesmo vocabulário para falar desses dois mundos heterogêneos. Não que eu apreenda atual e concretamente essa diferença. Posso apenas vislumbrá-la obscuramente e de longe, mas o bastante para perceber, por exemplo, que o arrependimento diante de Deus é TOTALMENTE DIFERENTE de qualquer sentimento que possamos vivenciar de ser humano a ser humano. É algo de ordem puramente espiritual, não emocional, embora o paralelo com as emoções seja, quase catastroficamente, o único meio de que dispomos para falar dele. Nos capítulos finais de “Till We Have Faces”, C. S. Lewis consegue quase dar uma idéia do salto para uma esfera espiritual cujo esplendor nenhuma emoção humana pode jamais refletir.

Lado certo

O sentimento de “estar do lado certo” é tremendamente corruptor. Não existe lado certo. O certo não é uma doutrina a que você adere, não é um grupo em que você se integra. É um caminho estreito que você perde todos os dias e tem de reencontrar sozinho. Não há nem mesmo caminho certo. Há passos certos e passos errados.”

“Não adianta nada dizer que “Jesus Cristo é o Caminho”. Ele é mesmo, mas é um caminho que desaparece das nossas vistas conforme os caprichos da nossa atenção e tem de ser reencontrado de novo e de novo mediante um esforço que nada tem de automático nem de garantido. No fim das contas, só o próximo passo é que conta.

Idiota útil

Como a arte de rastrear a origem dos próprios pensamentos é apanágio de poucos, a maioria acredita que suas opiniões são livres, pelo simples fato de que não sabe de onde vieram. O idiota útil, por definição, é idiota demais para saber que é útil e quem o utiliza. Cada um imagina que julga desde as alturas de uma superior autonomia de pensamento justamente quando repete os chavões mais vulgares e mais surrados.

Lúcio de Miranda

Lúcio de Miranda

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Sem falar de filosofia, literatura, política, história, etc, minha volta ao catolicismo foi fruto direto do COF, meu casamento também, e indiretamente a conversão de dois sobrinhos, um amigo e o batismo dos meus dois filhos. Um deles, com 13 anos, conhece mais a religião que professa do que toda a sua escola, incluindo os professores. Por isso, eu também afirmo: “foda-se o que você pensa do Olavo de Carvalho”.