Pensamento liberal-conservador

“Pensamento liberal-conservador” já existiu no Brasil. Os nomes de Joaquim Nabuco, João Camilo de Oliveira Torres, Leonel Franca, Gustavo Corção, Paulo Mercadante e tantos outros bastam para prová-lo. Hoje existe apenas uma “opinião conservadora” muito chinfrim, cujo alcance intelectual não vai além do puro jornalismo. Para ser um “pensador” é preciso mais do que falar mal da esquerda. É preciso um sério esforço de compreensão da realidade, um enfrentamento com as questões maiores da alta cultura e não só com as polêmicas locais do dia. Os últimos “pensadores liberal-conservadores” que restam são J. O. de Meira Penna e Antonio Paim, quase centenários, e Ricardo Vélez Rodriguez, que é venezuelano. Posso ter um diálogo, até polêmico, com eles e com ninguém mais neste Brasil. Não há também nenhum “pensador de esquerda” neste país, é verdade, apenas palpiteiros, marqueteiros e agentes de influência. Mas a esquerda continua importando e publicando o pensamento esquerdista internacional e superlota as livrarias com Zizeks, Wallersteins, Meszaros e tutti quanti, ocupando portanto um espaço na vida intelectual nacional com material importado. O pessoal conservador não faz nem isso. O déficit de livros conservadores no nosso mercado editorial não está abaixo de dez mil títulos. Se os pretendentes a “pensadores conservadores” passassem o dia traduzindo em vez de nos brindar com suas lindas opiniões, estariam fazendo alguma coisa. Na verdade, não podem fazê-lo, porque não acompanham nem o pensamento conservador no mundo. Do jeito que a coisa está hoje em dia, não merecem nem ser detestados. De Gaulle dizia: “Pode-se detestar Hitler e Stálin. Não se pode detestar o nada.”

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