Inteligência e verbalização

Algumas notas sobre inteligência e verbalização do prof. Olavo de Carvalho:

“(1) Discutir com idiotas pode ser útil para o aprendizado literário, porque nos obriga a expressar em palavras as obviedades que antes só percebíamos num relance intuitivo mudo. Mas pode também fazer trazer dano à inteligência geral, pois nos vicia a desacelerar as intuições e trocá-las pelo raciocínio verbal. Entre uma coisa e a outra, é preciso dançar e exercer o autocontrole.

(2) Se, de tanto frear as intuições para verbalizá-las, algum dia você chegar ao ponto em que só percebe aquilo que for capaz de explicar a um idiota, você mesmo ficou idiota.

(3) Quando Sto. Tomás, depois de escrever as duas Summas, os Comentários a Aristóteles e as Questões Disputadas, finalmente entendeu coisas que estavam infinitamente acima da sua capacidade de escrever, ele teve de admitir a existência de um abismo entre inteligência e linguagem, e voltou, de certo modo, a ser o Boi Mudo, como o apelidaram na juventude.

(4) Aquilo que você não consegue verbalizar é o melhor que a sua inteligência percebeu. Não a force a expressar-se em palavras. Espere que o tempo faça isso lentamente, misteriosamente. Um dia você sai explicando a coisa com a maior facilidade, e nem sabe como conseguiu isso.

(5) Só idiotas pensam com o cérebro. O gênio percebe a verdade com a totalidade do seu ser e deixa ao cérebro o trabalho humilde de reduzi-la a proporções manejáveis.

(6) Se você quer destruir a sua inteligência de uma vez por todas, só admita como verdade o que possa provar. Descartes criou a fórmula perfeita da imbecilização. De tudo o que sabemos por evidência imediata, só uma parcela infinitesimal pode ser retida na memória até transmutar-se em discurso e poder, em seguida, ser decomposta como prova.

(7) Quanto tempo você leva para inteligir alguma verdade? Uma fração de segundo. Quanto tempo para verbalizá-la? Minutos ou horas. Quanto tempo para demonstrá-la? Dias ou semanas. Quanto tempo para refutar todas as objeções possíveis? Anos, às vezes a vida inteira. O próprio Descartes foi testemunha disso, mas nem por isso entendeu que a exigência de provas, se faz bem à sociedade e à cultura, pode ser a morte da inteligência individuo.”

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Organizado por Artur Silva

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